O casamento de António José Carlos Pereira e Maria Paula Borralho Sarilho Pereira em Vidigueira, Vidigueira

A crónica do nosso casamento

Em união de facto desde 2000, sempre com o sonho de casamento por bagagem e sempre a vivermos situações dramáticas pela minha falta de saúde, insuficiente crónica com um transplante em permanente regeição. Mais tarde em 2014 surge o primeiro caso oncologico do Antonio, avcs e dias muito duros, em 2019 segundo caso oncologico da língua, não aceitou o protocolo à Frankenstein do ipo e por isso temos lutado juntos sozinhos com este cancro. Assim se passaram 22 anos de vida em crescente amor, muito apoio e entrega sempre a querer o melhor para a realização do sonho de casamento. Infelizmente o Antonio piora, em finais de Dez/22 e é declarado pelo médico em estado terminal, eu saio do hospital e viro o carro para a conservatória, na ansia de não o deixar partir sem viver o sonho. O casamento fica marcado para o dia mais rápido possível da conservatória que coincidiu com o dia de anos da minha irmã, uma segunda mãe para mim. Dentro do pouco tempo conseguiram se 22 convidados dos melhores que poderiam vir. Contratamos os serviços de catering da Adega Cooperativa da Vidigueira/Casa das Talhas, a cerimónia decorreu na sala das barricas em fermentação, na cave, com iluminação de candelabros. Os convidados tinham cadeiras douradas o Antonio esperava me junto à Dra Conservadora, na véspera melhorou significativamente, o meu receio era ele não conseguir sair da cama, mas saiu quase milagrosamente e estava em pé à minha espera cheio de emoção com lágrimas em fio. Eu desci com o meu pai, num vestido de estilista que o Antonio me tinha trazido do Canada ( a terra Natal dele), que foi guardado até poder ser usado no casamento e 22 anos depois estava me perfeito. A música da minha entrada foi uma valsa, a única escrita pelo actor John Hopkins, foi um momento surreal de alegria e lágrimas discretas pelo saber da situação, a felicidade inesquecivel daquele dia era o principal empenho de todos. E todos deram um contributo maravilhoso. Todos se relacionaram em grande entrega, harmonia, participação em danças e cantares. Foi um dia de extrema felicidade que nos fez anular a imensa tristeza em que vivíamos. O meu padrinho vive em Lisboa contratou uma Limousine, de surpresa chegou à Vidigueira e foi me buscar ao cabeleireiro na rua tudo espreitava a limousine. Mesmo antes da cerimónia, já penteada e vestida havia me esquecido do bouquet! Fui de limousine ao lidl comprar flores. A grande quantidade de clientes deixaram me passar para não chegar atrasada e vieram todos à rua ver me entrar e sair de limousine...foi estonteante. O serviço de catering foi magnífico, incluiu actuação de um grupo de cantares alentejanos. O Antonio ficava muito cansado, dormia aos bocadinhos sossegado na limousine e voltava de sorriso gigantesco para a festa. Foi indescritivel o brilho nos olhos dele. Num dia que se adivinhava triste, não poderia ter sido mais feliz. Foi uma injecção de felicidade enorme, que ainda hoje, que enfrentamos uma luta de saúde atroz para os dois, eu em hemodialise porque acabei por perder o transplante, ele está quase 24 horas por dia deitado sob efeito da morfina, a nossa casa decidimos ampliar áreas e portados para ele poder usar a casa toda com cadeira de rodas, tivemos que parar as obras, não temos ajuda nenhuma e vivemos na casa inacabada. A minha tristeza por o ver com falta de conforto é imensa, falta nos inclusive portas interiores, sistema de águas quentes por adquirir ...nem tenho palavras. Mas o sorriso dele quando fala do dia do nosso casamento é a melhor descarga de felicidade para mim.