Boa noite, princesas! O COVID está a mudar os nosso dias e não quer dar tréguas. Mas nós somos mais fortes! Enquanto cumprimos restrições e confinamentos parciais, preparamos caminho para celebrar os tão aguardados casamentos de 2021. Estamos em pulgas para ver as primeiras fotos e primeiras reações de felicidade! E serão os casamentos mais felizes de sempre (apesar de todas as regras)!
“Não há duas sem três” nesta série de entrevistas a noivas que casaram em época COVID. O objetivo? Fazer-vos pensar nas opções que poderiam tomar para o vosso casamento. Tudo depende dos números de novos casos e das imposições da DGS na altura. Informem-se o máximo possível com os vossos fornecedores, mas de uma coisa podem ter a certeza – no final, o vosso dia C será dos mais felizes que alguma vez tiveram! Neste debate mostro mais um exemplo real. Podem tirar todas as vossas dúvidas e fazer as perguntas mais indiscretas. Vamos a isto?
Hoje a nossa querida Raquel conta-nos na primeira pessoa como foi o seu dia C que ocorreu a 24 de Outubro.
1. Fala-nos um pouco de ti: quem és e de onde vens?
Sou a Raquel. Sou user experience designer de profissão e reconheço que isso impactou a organização o nosso casamento. Sou da Madeira, mas resido em Oslo (Noruega) há quase 6 anos.
2. Como imaginavas o teu Casamento antes de o organizar? Sempre sonhaste com o teu dia C?
Não sou muito pessoa de sonhar. Simplesmente idealizo algo e depois executo. Por exemplo, não cresci com o “sonho de princesa” de casar. Mas a partir do momento em que começou a fazer sentido para nós enquanto casal o casamento, então comecei a pensar, idealizar e a querer “tudo aquilo a que tenho direito”. Queria uma banda que tocasse Rock n’ Roll com guitarra elétrica e não queria dançar músicas lamechas.
3. Quando se instalou a pandemia COVID-19, como estava a organização do teu casamento? Quanto tempo faltava?
Faltavam 33 dias para o dia do casamento e menos de 15 dias para viajar até a Polónia para as últimas provas e trazer o vestido. Já tínhamos tudo orientado! Lembro-me do momento que liguei à minha mãe a dizer que íamos adiar. Ela estava na loja a fazer as últimas provas do vestido dela. Na altura faltavam apenas as manualidades que, por vivermos fora, ainda não tínhamos executado.
4. Qual foi a maior dificuldade que sentiste ao tentar reorganizar o teu casamento? Os fornecedores ajudaram? Encontraste informação suficiente nas fontes habituais?
No início quando adiamos, acima do sentimento de tristeza, tínhamos o sentimento de “é melhor assim, foi o melhor que fizemos”, até porque no dia em que adiámos ainda não estavam proibidos os casamentos. Apenas se falava no encerramento de certos aeroportos, o que para nós já tornaria o casamento impossível. Portanto, não sofremos muito no início. Ainda era tudo muito novo e ainda existia aquela ideia de que “Isto não é nada. Logo, logo, isto passa!».
Tivemos muita sorte com os fornecedores, porque a primeira coisa que fizemos desde a decisão de adiar foi falar com os fornecedores e tentar não perder o sinal. Todos sem exceção aceitaram o adiamento, naquela altura para data indefinida, sem perda do sinal e ainda nos deram palavras de conforto. Sentimo-nos bastante apoiados por eles.
Entretanto, no início de Abril, a banda pressionou um bocadinho para remarcarmos a data, devido à agenda cheia que eles costumam ter. E lá atirámos “para o alto” o dia 24 de Outubro, porque todos os fornecedores podiam nessa data. Contudo, só informamos os convidados muito mais à frente.
Até Julho não pensámos mais em casamento. Tínhamos deixado tudo em pausa. Só voltamos a planear a partir de Julho porque foi quando o Aeroporto da Madeira abriu. Começamos a ver também notícias de que os hotéis iam começar a abrir, o que significaria que o nosso local para o casamento estaria também operacional.
Foi a partir de Julho que começou verdadeiramente o stress, a angústia, a incerteza e muita ansiedade. Era difícil falar com a responsável pela Quinta, respondia-nos muito esporadicamente e mais tarde ficamos a saber que ela estava em lay-off e também a fazer um esforço para ela própria se manter à tona de água. Mas depois de conversarmos via Teams, tudo melhorou.
A nível de informação, vinha ao Casamentos.pt diariamente, sabia que tudo o que pudesse acontecer relacionado com os casamentos estaria a ser discutido ali. Inspirei-me em várias noivas que se preparam para casar na mesma altura e até nos mesmos moldes que eu. Era uma espécie de motto para mim: se elas conseguem, nós também iremos conseguir!
A parte pior foram todos os sentimentos negativos que mencionei. A ansiedade de fazer literalmente uma triangulação da informação: situação em Portugal, situação na Noruega, situação do Reino Unido (onde vivem o irmão do noivo/padrinhos) e situação concreta da Madeira: o que podemos fazer, o que é permitido e como. O verdadeiro stress foi mesmo aqui. Por isso digo que isto tudo me traumatizou, porque aguentamos fortes no início, quase dormentes mesmo, mas depois com o passar do tempo afetou-nos psicologicamente.
5. Quais as adaptações que tiveste que fazer? O que mais te custou decidir?
Não tivemos que decidir muita coisa em especial. O plano manteve-se quase inalterável. O restaurante da Quinta fez as adaptações necessárias. Nós só tornámos as outras adaptações mais criativas. Fizemos frascos de álcool gel personalizados a todos os convidados, com o nosso logotipo e com lacinhos, e fornecemos mascaras para todos no dia, também com o nosso logotipo.
A minha mentalidade sempre foi a de não ignorar a situação, mas sim encará-la de frente e assumir que estamos numa pandemia. O noivo, por exemplo, no início não queria ter mascaras nem fazer frasquinhos de álcool gel. Ele não queria um “reminder” constante da situação em que vivemos nem que fosse o foco do nosso casamento. Já eu mantive a atitude de que podemos continuar a fazer cenas fixes para os nossos convidados e a cumprir com as regras. Ignorar é pior e gera medo.
No salão podíamos ter a banda mais próxima dos convidados, mas decidimos por outra localização mais afastada precisamente para cumprir com todas as regras. E não foi menos bom por isso.
Tivemos também a ideia de colocar um autocolante nas mesas por baixo do prato do pão de cada convidado com uma mensagem do tipo “se não te sentes à vontade para dançar na pista, este é o teu espaço”.
E na semana antes enviei um cartão digital a informar as pessoas de que para a cerimónia na capela contávamos apenas com os nossos pais e padrinhos no interior e que os restantes convidados esperariam na rua, podendo acompanhar a cerimónia via áudio, o número total de convidados e a identificação da sua mesa.
Isto funcionou muitíssimo bem porque A) as pessoas sentiram-se informadas, logo mais seguras e B) toda a gente acompanhou a cerimónia no exterior. Eu que até criei um jogo (bingo) para as distrair durante a cerimónia, acabou por ser um quebra-gelo para todos.
6. Como sobreviveste aos últimos dias antes do teu casamento, com o reforçar das medidas de confinamento?
Foi muito complicado. Embora, a partir do momento em que chegamos à Madeira as coisas tornaram-se mais reais; já parecia mais que ia acontecer. Chegámos com 2 semanas de antecedência. Mas antes da viagem, e desde Março os nossos bilhetes foram cancelados 3 ou 4 vezes, então havia sempre essa expectativa de “será que vão cancelar outra vez?”
Já estávamos na Madeira quando foi anunciada a medida que só permitiam 50 pessoas no casamento, e foi a minha irmã que me mandou a notícia de manha. Nesse dia caiu-me tudo – tínhamos 76. Mais ao final do dia é que ouvi a conferência de imprensa do Primeiro Ministro, e vi que (ainda) não se aplicava à Madeira, o que foi um alívio.
Mas também os últimos dias, com as confirmações e desistências vimos 25% dos convidados cancelarem a presença, por não poderem viajar, e a grande maioria eram amigos do noivo. Foi difícil vê-lo triste, mesmo bastante.
7. Valeu a pena casar? Voltarias a casar nos mesmos moldes ou arrependes-te de não ter adiado (novamente)?
Valeu tanto a pena! O dia foi perfeito! E já admiti até que foi bem mais fixe do que se tivesse sido em Abril (data inicial). Deu-nos mais tempo e margem de manobra para preparar todos os pormenores e miminhos aos convidados. E acho que os nossos convidados estavam a precisar de uma festinha assim, algo que os distraísse. O feedback que tivemos foi muito positivo, face aos pormenores, a festa em si foi mais valorizada.
8. O que dirias à Raquel do passado, aflita com a organização do seu casamento?
Diria o mesmo que me fui dizendo até o dia do casamento: tudo aquilo que se puder fazer agora para prevenir qualquer incidente ou aspeto menos positivo no futuro, fazemos agora, e fazemo-lo bem. O plano B não tem que ser pior do que o plano A, nem o plano C tem que ser menos do que o B. E o que não conseguimos controlar não vale mesmo a pena se preocupar.
Não sei quanto a vocês, mas estas palavras encheram-me o coração! Não é por cumprirmos regras e o nosso dia não ser exatamente o que tínhamos idealizado que será um casamento “menor”. Peço contrário: será bem MELHOR por ser cumprido em segurança e em Felicidade Plena por parte de todos os presentes!
A ti Raquel, o meu muito obrigada por partilhares a tua experiência (com a qual me identifico imenso, btw). Desejamos-te as maiores felicidades e que continues a brilhar como brilhas em tudo o que fazes (as tuas Manualidades) e tudo o que escreves.
E vocês, princesas? Fariam algo do género: casar num sítio mais longínquo para fugir ao COVID?
Bjs e bons preparativos
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Podem ver outras tipologias de Casamentos em tempos de COVID-19 aqui:
● Joanna: casamentos tradicionais ao ar livre e em espaços amplos
● Telma: microcasamento civil em 2020 com festa e casamento religioso depois